Engraçado. Agora pouco estava lendo o Blog de Bruninho e o post dele de domingo me fez lembrar uma época bem diferente da minha vida, onde eu convivia com pessoas extremamente diferente de mim, passava o dia fazendo coisas extremamente diferentes da que eu faço e era uma pessoa extremamente diferente da que eu sou hoje em dia.
Pois é. Logo depois que passei no vestibular, meu pai ainda morava aqui em casa, mas as coisas já não estavam tão bem assim. Então, com a ajuda da greve na UFPE que durou uns 6 meses e com a opção “2ª entrada” que eu escolhi no vestibular, eu resolvi começar a trabalhar.
Trabalhei por 2 anos na Riachuelo do Shopping Recife. Algumas pessoas mais próximas sabem que ainda hoje eu evito entrar pela porta principal (da frente) da loja, pois nós funcionários éramos proibidos de entrar pela porta da frente. Sempre achei isso um absurdo, mas regras são feitas para serem seguidas e até hoje, por força do hábito, eu tenho receio de entrar, até que eu me lembro que não sou mais um funcionário.
Eu trabalhava num departamento que, teoricamente, era pra ser um dos mais fáceis, o Crediário. Uma das minhas maiores diversões era atender um cliente muito chato e mal educado que durante o meu atendimento me tratava mal. Não, não é loucura. O que eu realmente gostava é que a maioria desses clientes tinha algum tipo de restrição no SPC e não eram autorizados a fazer o cartão ou tinha o seu cartão bloqueado por mim. Isso era a melhor parte. Dizer de uma forma educada: “Senhor, seu nome está mais sujo que pau de galinheiro! Vai dar calote em outra freguesia!”
Um caso engraçado ocorreu uma certa vez, a noite, quando um senhor extremamente grosso foi barrado no caixa tentando comprar aproximadamente R$ 1.000,00 em roupas. Quando o valor da compra era alto, os caixas precisavam de uma autorização nossa para liberar a venda. É claro que esse senhor estava tentando dar o calote e teve seu cartão bloqueado. Indignado, ele foi mandado em direção ao crediário. O funcionário do caixa já informou pelo telefone que não deixassem nenhuma mulher atender o tal senhor porque ele era muito grosso e poderia partir pra ignorância. Sobrou pra quem atender o senhor mal educado? Pra mim obviamente.
Ele já entrou no Departamento de Crediário fazendo escândalo e querendo ser atendido imediatamente. Eu, educadamente, disse que ele teria que esperar na fila como todos os outros clientes que estavam ali, pois ele não era favorecido pela má educação que tinha.
Após uns 10 minutos que ele ficou curtindo a sua raiva interior, de pé, na fila, eu finalmente o chamei. Ele disse meia dúzia de palavrões e jogou o cartão de crédito dele na minha cara e gritou: “Quebre essa merda! Quebre! Estou mandando você quebrar essa porra!”
Na mesma pose que eu estava, sorrindo e ouvindo aquele monte de besteiras acompanhada de um mar de saliva que saia da boca dele de raiva, eu peguei o cartão que estava caído em cima do balcão, limpei o meu rosto do cuspe que tinha caído em mim e disse: “Pois não senhor!” E prontamente quebrei o cartão de crédito dele em 4 pedaços.
Sem que ele pudesse se recuperar do susto que levou, pois não esperava que eu fosse quebrar o cartão dele, fui logo dizendo: “Posso lhe ajudar em mais alguma coisa? Caso contrario queira se retirar do meu guichê, pois o senhor está atrapalhando o bom andamento do atendimento aos clientes!” E logo fui chamando o próximo.
Ele se recuperou do susto dois segundos depois que eu o coloquei pra fora do meu guichê e começou a gritar pelo gerente da loja. Nessa hora, o meu chefe que era o encarregado do departamento que eu trabalhava, estava dentro da sala dele assistindo toda a cena pela parede espelhada que separava a sala dele no balcão de atendimento. Segundo me contaram depois (porque quem está do lado de fora não consegue enxergar o que acontece dentro da sala) ele estava dando pulos de alegria por eu ter quebrado o cartão do cliente.
Para a felicidade do cliente, eis que meu chefe vem falar com ele, e para a sua posterior infelicidade, meu chefe apenas repetia: “Meu funcionário fez EXATAMENTE o que o senhor pediu aos berros!”
Depois de alguns minutos, a conversa chegou ao ponto que o cliente estava chamando o gerente de “filho da puta” e ele com toda educação e sorrindo sempre, dizia: “Imagina senhor Fulano, filho da puta é o senhor, tenho certeza disso!”
Encurtando a história, o cliente foi convidado a se retirar da loja pela segurança e nunca mais voltou por lá.
Nesses dois anos de Riachuelo, eu trabalhei também durante muitos meses na parte dos anúncios da loja.
Se você entrou na Riachuelo nos anos de 2001 e 2002 e ouviu uma voz dizendo: “Prezado cliente! Aproveite a super promoção do nosso departamento masculino. Blusas manga longa por apenas R$ 29,90. Isso mesmo, blusas manga longa por apenas R$ 29,90. E você ainda pode dividir em até 5 vezes sem entrada e sem juros no seu cartão Riachuelo. Aproveite. Riachuelo faz seu estilo!”
Pois é... essa voz que vinha do além era minha.
Se eu me arrependo de alguma coisa? Não!
Conheci pessoas maravilhosas que me ajudaram muito a crescer e amadurecer como ser humano. Mas infelizmente o comercio não foi feito para pessoas como eu.
A lição que eu tirei de tudo isso?
Jamais chamo o gerente por motivos idiotas, pois odiava ouvir a frase: “Meu querido, chame o seu gerente por favor!” Mas brigo por todos os meus direitos, afinal ninguém gosta de ser passado pra trás.
Um abraço para todos do Crediário que trabalharam comigo. Saudades.