O Senhor é Vós ou Vós Sois o Senhor?
Certo dia, estava no ônibus quando entrou um T.J. (Testemunha de Jeová sensu Soares, 2009) aos berros pregando para a multidão. O tema era o nascimento de Cristo e, entre as críticas ao comercio desenfreado que rege a vida das pessoas em épocas natalinas, eis que ele solta a seguinte pérola:
“Senhor! Vós NASCEU em uma manjedoura...”
Minha reação foi responder prontamente:
“E morreu após ouvi-lo assassinar a gramática da língua portuguesa!”
Momentos depois, deparei-me com uma curiosidade, pois, embora tenha passado vários anos da minha vida dentro da igreja, eu não tinha pensado sobre isso:
Por que nós usamos o pronome VÓS para nos referirmos ao Senhor?
Para entender tal questionamento, precisamos relembrar um pouco de um assunto que ficou no passado, nas aulas de português: pronomes de tratamento.
O Aurélio define os pronomes de tratamento como "palavra ou locução que funciona tal como os pronomes pessoais". Os gramáticos, por sua vez, ensinam que esses pronomes são da terceira pessoa, substituindo o "tu" da segunda pessoa.
Isto é fácil de entender. A base desses pronomes são certos qualificativos como: Excelentíssimo, Reverendo, Magnífico, Eminente, etc. As formas pronominais diretas e indiretas respectivas a esses exemplos são: Vossa Excelência, Sua Excelência, Vossa Reverendíssima, Sua Reverendíssima, Vossa Magnificência, Sua Magnificência, e Vossa Eminência, Sua Eminência.
Usando-as, não falo diretamente com a pessoa, mas, estando em sua presença, eu me dirijo a ela representada por aquilo que ela tem de notável; uma qualidade que é tomada pelo substantivo (ou nome) respectivo.
Por exemplo, a uma pessoa bela, eu diria "Vossa Beleza gostaria de sentar-se ao meu lado?" dirigindo-me à sua beleza, como se dissesse "Ela, a tua beleza, gostaria de sentar-se ao meu lado?".
Poderia também falar a respeito dela a uma terceira pessoa dizendo: "Sua Beleza já se foi!" ou "Sua Beleza está de mau humor". Quando reconheço na pessoa excelsas virtudes e excelência moral, falo dela: "Sua Excelência deu-me uma ordem" (A excelência dela deu-me uma ordem).
Mas a questão, do ponto de vista gramatical, é um pouquinho complicada. Afinal, por que se diz "Vossa Excelência" e não "Tua Excelência" como segunda pessoa do singular? Ocorre que um modo de reconhecer ou afirmar com mais ênfase é empregar os pronomes no plural, substituindo "tu" por "vós", "tua" por "vossa", etc. Assim é na prece "Vós sois o Todo Poderoso", no lugar de "Tu es o Todo Poderoso".
Quando digo "Vossa Excelência", eu estou a dizer que, além de reconhecer na pessoa a sua excelência moral, também reconheço a grandeza da sua virtude. Então o significado "Ela, a tua excelência" passa a ser "Ela, a vossa (grandiosa) excelência".
Agora sim eu consigo entender porque nós usamos o pronome vós pra falar de Jesus. É pela sua grandiosidade, a qual nos é imposta.
Em todo caso, acredito que nosso amigo T.J. do inicio deste post devia ter dito:
“Senhor, vós NASCESTES em uma manjedoura...”
Ou, de uma forma menos “grandiosa”:
“Senhor, tu NASCENTE em uma manjedoura...”
Usar o verbo na terceira pessoa do singular me parece uma forma equivocada. Porém, como não sou especialista, vamos aguardar que alguém se pronuncie.
Ah! Só pra esclarecer, Soares que propôs o sensu dos T.J. é a Milena (piada interna).
Fonte: Rubem Queiroz Cobra
“Senhor! Vós NASCEU em uma manjedoura...”
Minha reação foi responder prontamente:
“E morreu após ouvi-lo assassinar a gramática da língua portuguesa!”
Momentos depois, deparei-me com uma curiosidade, pois, embora tenha passado vários anos da minha vida dentro da igreja, eu não tinha pensado sobre isso:
Por que nós usamos o pronome VÓS para nos referirmos ao Senhor?
Para entender tal questionamento, precisamos relembrar um pouco de um assunto que ficou no passado, nas aulas de português: pronomes de tratamento.
O Aurélio define os pronomes de tratamento como "palavra ou locução que funciona tal como os pronomes pessoais". Os gramáticos, por sua vez, ensinam que esses pronomes são da terceira pessoa, substituindo o "tu" da segunda pessoa.
Isto é fácil de entender. A base desses pronomes são certos qualificativos como: Excelentíssimo, Reverendo, Magnífico, Eminente, etc. As formas pronominais diretas e indiretas respectivas a esses exemplos são: Vossa Excelência, Sua Excelência, Vossa Reverendíssima, Sua Reverendíssima, Vossa Magnificência, Sua Magnificência, e Vossa Eminência, Sua Eminência.
Usando-as, não falo diretamente com a pessoa, mas, estando em sua presença, eu me dirijo a ela representada por aquilo que ela tem de notável; uma qualidade que é tomada pelo substantivo (ou nome) respectivo.
Por exemplo, a uma pessoa bela, eu diria "Vossa Beleza gostaria de sentar-se ao meu lado?" dirigindo-me à sua beleza, como se dissesse "Ela, a tua beleza, gostaria de sentar-se ao meu lado?".
Poderia também falar a respeito dela a uma terceira pessoa dizendo: "Sua Beleza já se foi!" ou "Sua Beleza está de mau humor". Quando reconheço na pessoa excelsas virtudes e excelência moral, falo dela: "Sua Excelência deu-me uma ordem" (A excelência dela deu-me uma ordem).
Mas a questão, do ponto de vista gramatical, é um pouquinho complicada. Afinal, por que se diz "Vossa Excelência" e não "Tua Excelência" como segunda pessoa do singular? Ocorre que um modo de reconhecer ou afirmar com mais ênfase é empregar os pronomes no plural, substituindo "tu" por "vós", "tua" por "vossa", etc. Assim é na prece "Vós sois o Todo Poderoso", no lugar de "Tu es o Todo Poderoso".
Quando digo "Vossa Excelência", eu estou a dizer que, além de reconhecer na pessoa a sua excelência moral, também reconheço a grandeza da sua virtude. Então o significado "Ela, a tua excelência" passa a ser "Ela, a vossa (grandiosa) excelência".
Agora sim eu consigo entender porque nós usamos o pronome vós pra falar de Jesus. É pela sua grandiosidade, a qual nos é imposta.
Em todo caso, acredito que nosso amigo T.J. do inicio deste post devia ter dito:
“Senhor, vós NASCESTES em uma manjedoura...”
Ou, de uma forma menos “grandiosa”:
“Senhor, tu NASCENTE em uma manjedoura...”
Usar o verbo na terceira pessoa do singular me parece uma forma equivocada. Porém, como não sou especialista, vamos aguardar que alguém se pronuncie.
Ah! Só pra esclarecer, Soares que propôs o sensu dos T.J. é a Milena (piada interna).
Fonte: Rubem Queiroz Cobra
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