quinta-feira, agosto 13, 2009

A Força dos Espinhos

Existiu um menino que vivia próximo a espinhos. Todo o dia, no nascer do sol, ao acordar, se furava. Ao menor movimento, ao executar suas tarefas diárias, se furava... E sangrava... O menino sangrava.

Assim, anos se passaram, o menino sempre questionando quando e como finalizaria seu sofrimento. Os espinhos não o deixavam.

Mas eis que um dia o menino resolveu observar atentamente aquilo que estranhamente lhe furava todos os dias. Estranha observação o menino fez: apesar de padecer todos os dias desde que se lembrava, o menino nunca tinha contemplado aqueles espinhos.

E parou. Durante dias ficou a olhar aqueles espinhos. E admirou a força deles. Eis que os enormes espinhos na verdade pertenciam a uma espécie singular de planta que crescia ao redor dele. Uma planta verde, sem folhas, apenas espinhos. E o menino sentiu raiva! Porque aquela planta tinha que nascer sempre ao lado dele, onde caminhava, onde dormia.

Já era então, um grande menino e resolveu partir. Mas, eis que entre estas plantas, ele avistou um botão. Um belo e grande botão de uma flor. Pacientemente, o menino ficou a observar tão singela aparição. Esqueceu-se por dias a fio sua resolução de mudar de lugar. E então, ao crepúsculo do mais longo dia do ano, nasce uma bela flor. O menino ficou estarrecido, nunca havia visto tão maravilhosa aparição.

Com o passar dos dias, o menino e a flor tornaram-se amigos. Ela crescia e o menino a admirava mais e mais. Contou como se sentia e a flor observava que o menino sempre sangrava.

A linda flor se ofereceu para ajudá-lo. Tornou suportável o seu padecimento. Era tão grande e forte que o menino durante a manhã podia ficar seguro entre suas pétalas e apenas ao crepúsculo voltaria aos espinhos de que tanto se queixava.

Durante algum tempo, o menino ficou assim. Cessando por algumas horas seu padecimento, pôde enfim refletir. Protegido e no alto dos espinhos com a flor, observou e viu para seu espanto, que os espinhos não eram tão grandes assim. E, da sua maneira, eram belos.

A flor então lhe disse para que eles serviam. Olhe sua pele agora menino, disse a flor, por causa das feridas ficou forte. Forte o suficiente para suportar o sol de nossa região, enquanto o sofrimento te deixou sensível o suficiente, para apreciares a beleza de uma flor.

E então, o menino partiu. Levou consigo a lição e uma planta com espinho no seu coração.

Autora: Sheila Milena Neves Araújo Soares