terça-feira, dezembro 16, 2008

Conflitos Internos

Queria que vocês estivessem dentro da minha cabeça pra conseguir entender todos os milhares de pensamentos que passaram por ela hoje, mas como isso ainda não é possível, vou tentar comentar algumas coisas.

Hoje foi a defesa da monografia de uma grande amiga minha, Renata Azambuja, que fez um trabalho lindo sobre “Ecopedagogia”.

Após assistir a apresentação da Renata (enquanto assistia, na verdade), comecei a pensar no quão diferente eram as nossas linhas de pesquisa.

O mais engraçado é que nós começamos juntos, no Laboratório de Fisiologia Vegetal, trabalhando com sementes e plântulas de pau-brasil.

Quando nós entramos no curso de Bacharelado em Ciências Biológicas, fomos moldados para sermos bons pesquisadores e este conceito de “bom” está relacionado com o quanto você produz. Em outras palavras, o quanto você publica de artigos.

Antes de prosseguir, preciso lembrar uma célebre frase de um professor da UFPE que diz durante as suas aulas:

“Apenas 5% dos alunos dessa turma vão realmente ser pesquisadores! Os demais vão vender picolé na praia!”

Exageros a parte, ele tem razão! Poucos são os que fazem mestrado e doutorado e continuam exercendo o oficio da pesquisa. Isso tudo porque o nosso país não está preparado pra absorver um número tão grande de profissionais dessa área e a maioria acaba seguindo outro rumo.

Então, pra correr atrás do prejuízo e fazer parte desses 5%, nós começamos a trabalhar intensamente e nos dedicar aos estudos e às publicações.

Nos tornamos pesquisadores, alguns de renome internacional.

O que muitos esqueceram é que a universidade é formada por 3 pilares, que alguns chamam de tripés, que são: a Pesquisa, o Ensino e a Extensão.

E que danado é isso?

O artigo 207 da Constituição Brasileira dispõe que: "As universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial e obedecerão ao princípio da indissociabilidade entre Ensino, Pesquisa e Extensão".

Ensino, Pesquisa e Extensão constituem as três funções básicas da universidade, as quais devem ser equivalentes e merecer igualdade em tratamento por parte das instituições de ensino superior, pois, ao contrário, estarão violando esse preceito constitucional.

Com o nosso dinheiro, o governo financia as universidades que estão voltadas para a Pesquisa, desenvolvendo novos estudos e descobrindo coisas novas; Ensino, formando novos profissionais das diversas áreas e Extensão, fazendo com que este conhecimento chegue até a comunidade.

Pois bem, estes 5% não estão nem um pouco voltados para o Ensino e MUITO menos para a Extensão. A cabeça só está na Pesquisa, afinal nosso curso nos prepara para sermos pesquisadores de renome, como disse no início.

Isso, na minha opinião, é péssimo! E o pior de tudo é que eu só percebi agora. Agora que só sei ser pesquisador!

E o que mais me espantou hoje, na monografia da Renata, é que ela conseguiu abordar todas estas funções básicas da universidade e fez da sua Pesquisa uma inovação para o Ensino que foi facilmente aplicável na Extensão!

Acredito que a célebre frase do nosso professor devia ser alterada para:

“Apenas 1 aluno dessa sala vai conseguir entender o seu papel na universidade! Os demais vão ser pesquisadores ou vão vender picolé na praia!"

Passamos (nós, apenas pesquisadores) para a outra categoria! Junto com os vendedores de picolé...

Parabéns Renata! Você conseguiu! Emocionei-me com a sua emoção!

2 Comments:

Blogger Vi said...

Eu acredito que alguns ainda conseguem cumprir a parte do ensino também além da pesquisa mas a extensão de fato é deixada de lado pela imensa maioria dos pesquisadores. Temos que nos esforçar para mudar isso!
Beijos, Vi!

10:06 AM  
Anonymous Anônimo said...

LINDO POST... acho que vc ]tem ]toda razão, está na hora da gente acordar e ver quem paga a nossa conta na facul e o que damos em troca para estas pessoas!
bjosss

4:56 PM  

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