sábado, junho 28, 2008

Não se faz mais pesquisa como antigamente

Depois de meses de leitura, revisão bibliográfica, conversas com pesquisadores especialistas em várias áreas da ciência, ontem, eu apresentei o meu projeto de doutorado.

Após a apresentação, na argüição, quando ficamos disponíveis para perguntas, o que mais me espantou foi a ausência de perguntas e de sugestões para melhorar o meu trabalho.

Decididamente eu não estou num curso que gosta de discutir ciência. As apresentações dos projetos, para muitos do programa, são etapas que devem ser cumpridas (obrigatoriamente, senão não seriam cumpridas) para obter a titulação.

Para não me chatear e pensar que a minha pesquisa não interessa a ninguém do programa, prefiro ouvir as palavras da minha orientadora:

"Seu projeto está bem estruturado e você apresentou bem. Por isso não surgiram dúvidas!"

Mas e as sugestões? O incremento na pesquisa alheia?

Sei lá... será que é assim em todos os programas?

Isso chega a ser frustrante e lastimável.

Se não concorda com a minha metodologia de pesquisa, então me sugira algo melhor? Acrescente alguma coisa nova? Participe!

Coincidentemente, recebi da Milena (Infiel) uma entrevista feita em 2003 com o Paulo Vanzolini, um pesquisador zoólogo que disse algumas coisas que eu concordo plenamente.

Vejam um trecho da entrevista quando perguntam para o Vanzolini por que não se fazem mais zoólogos como antigamente:

"A ciência no Brasil está numa hora muito ruim, porque o dinheiro está na frente. Hoje em dia, só se pensa em dinheiro para pesquisa, só vale pesquisa que custa caro [...]

[...] Mas, o que aconteceu de pior com a pesquisa brasileira, foi o que aconteceu com a pós-graduação. A pós-graduação, quando eu via, primeiro lugar, não se pensava em mestrado.

Mestrado não exige nem originalidade, mas doutoramento, o que era doutoramento?

O doutoramento era a criação de um novo pesquisador.

A tese de doutoramento mostrava que o indivíduo tinha aprendido a circunscrever um programa, atacar esse programa com as ferramentas da profissão, tirar um bom resultado e expor esse bom resultado num trabalho de peso.

Hoje em dia, você não arranja emprego em nenhuma faculdade, em nenhum lugar, se não tiver, pelo menos, mestrado.

Então, a pós-graduação, agora, virou curso de aperfeiçoamento profissional, de qualificação profissional e tirou a coisa da pesquisa.

As teses que se têm feito, aqui no Brasil, são, na maior parte, uma vergonha, porque, veja você, você vai reprovar um menino, tirar o pão da boca dele? Quer dizer, como a gente sabe que a pós-graduação é para ganhar a vida, então, aprova-se todo mundo. Então, está uma porcaria."


Memória Roda Viva - Site FAPESP.

1 Comments:

Blogger Vi said...

Sim, sim... hoje em dia o povo olha torto pra quem crítica, dá opinião... ou ficam falando como a banca foi chata... ou que não pode reprovar na defesa...
isso tudo deveria ser encarado como parte da ciência e não como chatice de alguém.
A ciência anda mesmo estranha!!! acho q eu fiquei parada no tempo anterior...
Beijos, Vi!

1:02 PM  

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